O Oceano no Fim do Caminho (resenha do Cyrino)

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Neil Gaiman não publicava um romance desde Os Filhos de Anansi, de 2005 (2006 aqui no Brasil). Durante estes oito anos, dedicou-se mais à literatura infanto-juvenil, lançando coisas como O Livro do Cemitério, por exemplo. O tempo de espera foi grande, mas finalmente O Oceano no Fim do Caminho, seu novo livro adulto, foi lançado.

E se as peças de marketing não me dissessem que era um romance para o público com mais de 18 anos, teria facilmente achado que se tratava de mais uma obra infantil. Não que isso seja necessariamente ruim, apenas não era o que eu estava esperando, principalmente após tanto tempo.

O narrador, cujo nome nunca é revelado, mas é de um alter ego do próprio Gaiman, volta à sua cidade natal de Sussex para um velório. Lá, ele revisita a antiga casa onde passou a infância e, sobretudo, a fazenda que fica no final da estrada, onde moravam as Hempstock, três mulheres um tanto excêntricas, mas muito acolhedoras.

Ele passa então a se recordar de Lettie Hempstock, a mais nova delas, que aparentava ter onze anos quando ele tinha sete. Os dois fizeram amizade e viveram uma aventura espetacular demais para ter sido verdade. Seriam essas memórias que lhe voltaram à tona apenas fantasia de criança ou elas, por mais absurdas que fossem, realmente aconteceram? Seja como for, tudo parece ter a ver com um suicídio ocorrido à época e também com o lago da fazenda, ao qual Lettie se referia como um oceano.

Como disse lá no segundo parágrafo, este romance realmente parece mais um dos livros infantis de Gaiman, não só porque ele se concentra na história do protagonista quando criança (embora o narrador seja sua versão adulta, o que confere uma voz narrativa mais elaborada à história), mas também porque toda a trama é leve e lúdica, como fantasias de criança mesmo. Utilizando uma metáfora televisiva, se isso aqui fosse um filme, ele passaria na Sessão da Tarde e não na Tela Quente.

Há alguns momentos mais pesados, mas isso livros como Coraline também possuíam. Situações que para adultos não possuem tanto impacto, mas que assustaria até o último fio de cabelo de um pimpolho. O fato de ter apenas cerca de 200 páginas também o torna uma leitura leve e bastante rápida, mas um tanto corrida até, pois não desenvolve tanto quanto poderia a mitologia criada para movimentar a trama, apenas pincela superficialmente os elementos oníricos e sobrenaturais da história.

E também possui um dos clichês da literatura de fantasia que eu mais odeio. Por que, em determinado momento dessas histórias, após o personagem principal viver a aventura de sua vida, ele tem que obrigatoriamente esquecer que tudo aconteceu? Vários escritores usam este artifício e eu simplesmente não entendo a necessidade disso.

No fim das contas, O Oceano no Fim do Caminho se prova uma boa leitura, afinal, até um Gaiman mediano é melhor do que muita coisa por aí. Mas está muito mais próximo em estilo de seus livros infanto-juvenis do que de um Deuses Americanos. Satisfaz, mas não deixa de ser um tanto decepcionante.

Não deixe de ler também a resenha da Joanna para este mesmo livro.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
o-oceano-no-fim-do-caminho-resenha-do-cyrinoPaís: EUA<br> Ano: 2013<br> Autor: Neil Gaiman<br> Número de Páginas: 208<br> Editora: Intrínseca<br>